terça-feira, 15 de abril de 2014

Um pouco de nessahan

Como escrevi exaustivamente em muitos textos, a paixão feminina é refratária à paixão masculina. Isto significa que, quanto mais gostamos delas, menos elas gostam de nós e que elas costumam amar aqueles que não as amam. O livro “Mulheres que Amam Demais” traz várias provas desta tendência instintiva prejudicial a todos.
O exposto acima significaria que o único caminho possível ao homem seria ser cruel para ser amado? Não. Há uma outra via: aprender a amá-las de outro modo, de um modo superior que lhes escape, que esteja fora do alcance dos seus desejos egoístas. De que maneira? Da maneira apontada por Nietzsche: “Mais do que o amor ao próximo, aconselho-vos o amor ao distante e ao futuro.” O amor ao distante é o amor desapegado, isento de sentimentalismos. É um amor superior. O que importa é conquistarmos a paz do coração, a tranqüilidade dos sentimentos. Isso não é possível quando estamos mergulhados na paixão sexual ou afetiva porque ambos são estados de inferno astral.
O sentimentalismo se refina e engana a todos, passando-se por algo sublime. Entretanto, uma rápida observação revela seu caráter efêmero e subjetivo: as pessoas oscilam facilmente entre sentimentos contrários. Basta uma palavra fora de lugar ou algo assim, e a pessoa sentimental, que se dizia cheia de amor, passa ao outro extremo, abandonando, desprezando ou substituindo o suposto objeto do seu “amor”. Então, é uma perda de tempo perseguir este tipo inferior de amor ou exigi-lo da parceira. O ser humano é volúvel e nos abandona com a mesma facilidade com que jura fidelidade, e as mulheres não fogem a esta regra.
O que as mulheres querem, no fundo, é somente provocar e manter o desejo masculino. A mulher deseja o desejo do homem. Sua auto-estima depende da satisfação deste desejo, que nunca arrefece por se tratar de uma forma de erotismo contínuo e unidirecional. O prazer feminino em saber-se desejada por nós, apontado por Nietzsche, é o prazer do erotismo contínuo descrito por Alberoni. Este último autor não disse, porém, que a continuidade do erotismo feminino é unidirecional, o que leva o leitor desavisado a supor que o mesmo seja bidirecional, o que é falso e não é corroborado pela experiência. Ela quer muito ser desejada, mas não deseja o homem em si. É este fato, aparentemente ilógico, que nos desconcerta. Esta situação origina muitos sofrimentos amorosos para homens que se condicionaram a exigir correspondência passional. O único motivo pelo qual sofremos no amor é porque nos apaixonamos. Se a paixão estiver morta, haverá aceitação, paz e felicidade em seu lugar. Mas as coisas não são assim tão fáceis, porque elas fazem de tudo para preservar nossos sentimentalismos, para não perder o “escravo”. Se quisermos adquirir a capacidade do amor superior, teremos que observar e estudar todas as formas manifestas de paixão em nós, com a maior objetividade possível e com absoluta sinceridade.
Temos que compreender os nossos equívocos, as visões errôneas e tudo o que se relacione com o funcionamento da paixão, seja ela uma paixão sexual ou emocional. O auto-conhecimento é a chave para se adquirir o estado interior correto que nos permitirá esvaziar a guerra da paixão de todo sentido, tornando-a estéril. Não adianta esperar que a mulher nos liberte, assumindo posturas definidas e dissipando todas as dúvidas. Isso nunca ocorreria, porque iria contra o desejo da continuidade. Tentar sensibilizá-las, como vejo em muitas músicas sertanejas, é algo até louvável, mas inútil. Resta-nos somente aprender a escapar das teias da aranha. Salvo raríssimos casos, nosso sofrimento amoroso jamais despertará piedade. Ao contrário: provocará satisfação. O problema vai além do que muitos pensam: saber que sofremos de amor costuma lhes dar prazer. Sacrifique seu sofrimento e você a terá atingido certeiramente. Mas cuidado: não finja ou o tiro sairá pela culatra. Sacrificar o sofrimento amoroso não é tentar sufocar a dor. Não é opor ao desejo um outro desejo contrário, nem tampouco opor ao sentimento um sentimento oposto. Não é fazer força contra o sentimento para reprimi-lo, nem cultivar ressentimento ou ódio. É separar-se conscientemente do mesmo para observá-lo em manifestação, compreendê-lo e, por fim, dissolvê-lo mediante a disciplina espiritual. Dissolver o sentimento é transformá-lo em felicidade. Eis aí o sacrifício da dor de amor.
A dor de amor pode ser muito forte, em alguns casos pode adoecer e matar. O amor possui um aspecto fatal. É como um explosivo: se não soubermos nos relacionar com ele, seremos suas vítimas. As atitudes que descrevi nos livros, indicadas para lidarmos com as mulheres, resultam de estados interiores corretos, os quais se originam da transformação do sofrimento amoroso em paz de espírito. Não são meros fingimentos ou auto-condicionamentos.
Nessahan Alita